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por Fabricio Vieira, facilitador de aprendizagem e fundador da Casa Movere 

Eu não sei dizer nada por dizer
Então eu escuto
Se você disser tudo o que quiser
Então eu escuto

Secos e Molhados, 1973

A depender de sua idade é bem capaz que você não conheça essa música (o que eu recomendo desde já). Secos e Molhados, banda liderada por Ney Matogrosso, foi um marco da contracultura no Brasil dos anos 70. Mas não é esse o tema desse artigo, mas sim a inspiração da música “Fala”, que, paradoxalmente, fala sobre escuta. Em poucas palavras, uma canção que pode ser inspiradora para lideranças em qualquer contexto de nossas vidas. Na família, no relacionamento amoroso, e sim, no local de trabalho. Um convite a um diálogo aberto, sincero e profundo. 

Criar um espaço para o diálogo, franco, desarmado, talvez seja uma das características mais preciosas de uma liderança. Porque faz toda a diferença. Uma relação em que lideranças e suas equipes se sintam seguros para expor sugestões, medos e desejos, amadurece emocionalmente todo o time, criando um engajamento sincero, movido a propósito. É um jogo corajoso, onde o cargo, o título, não são escudos para manter-se à razão, mas o mérito de quem está no papel de transformar, mais do que liderados ou colaboradores, pessoas. 

Desde muito cedo somos lançados a um imaginário coletivo onde o líder é praticamente incontestável, resolve qualquer coisa com seus superpoderes. Não tem dúvidas e sempre diz a coisa certa, não importa a situação. Um oráculo. Na vida real, quem aguenta esse ser encantado? Afinal, até o super-homem tem uma kryptonita, que dirá o resto dos mortais.  

Não é fácil formar um líder. E sim, ele precisa ser formado. As empresas investem em programas de desenvolvimento e isso é louvável e imprescindível. Mas ser líder também envolve uma predisposição íntima ao autoconhecimento. Pode ser uma terapia, a ioga, arte terapia, só você poderá encontrar a sua melhor jornada para explorar seus altos e baixos, entender que também é vulnerável. É preciso perceber-se humano, logo, imperfeito, para entender a humanidade do outro.  

É a partir desse corajoso olhar para si que surgirão os recursos emocionais para lidar com os desafios da sua empresa, da sua família, de todos os seus relacionamentos. Uma segurança emocional baseada em confiança de mão dupla. Lidar com divergências, buscar convergências. Traçar metas coletivamente, conversadas até que façam sentido, engajando a todos com um propósito genuíno.  

Já pensou sobre isso? Como tem se relacionado com as pessoas que você ama, com seus colegas de trabalho, se existe um elo de confiança, de escuta entre vocês? Se sim, parabéns! Se ainda não, que tal prestar atenção a partir de agora?