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por Fabricio Vieira, facilitador de aprendizagem e fundador da Casa Movere 

Conversa boa é sempre marcante, não é? Ela é o que move a paixão pelos amigos, por um professor, um grande amor, a admiração pelos pais e pelas tantas pessoas que passam nas nossas vidas. Mas vamos pensar juntos, quais são as conversas que te trouxeram algo de novo, uma maneira de rever suas posições, onde você também se sentiu confortável e confiante para expor suas opiniões?

Conversar é tão imprescindível, não só para você, para mim, mas para todo o coletivo, para o desenvolvimento da sociedade, que é objeto de estudo. É muito além da linguagem, envolve toda nossa constituição como pessoa, nosso repertório e o nosso… cérebro. E a linguagem do cérebro, é a neurociência.

É isso o que os pesquisadores Nicklas Balboa e Richard D. Glaser, ambos do CreatingWE Institute exploram em seu artigo publicado na revista científica Psychology Today, a partir de estudos da antropóloga organizacional Judith E. Glaser, notabilizada pelo livro Conversational Intelligence: How Great Leaders Build Trust and Get Extraordinary Results, ainda não publicado no Brasil.

Após um rigoroso exercício de observação, estudo campo e pesquisas sobre as muitas dimensões que uma conversa pode proporcionar, Glaser classificou pelo menos três tipos de plataformas de diálogos presentes experienciadas por nós, a Transacional, a Posicional e a Transformadora.

Sabe quando você bate aquele “papo de elevador”, pergunta da família, do trabalho, comenta se está frio ou muito calor, tudo muito cordial e sem nenhum desdobramento? Fica sempre tudo bem, sem divergências ou espaços para temas mais profundos. Essa é a conversa Transacional.

Já quando você encontra aquela pessoa que você já sabe para qual time de futebol ela torce, em quem vota, conhece – e diverge -, de sua visão de mundo e prevê um embate, Glaser classifica como conversa Posicional. Ou ainda, conversas difíceis. Você defender suas posições, argumenta, indaga o outro, mas ambos estão presos em suas próprias verdades. Não há muito abertura para permear a conversa com novas ideias. Se a intenção é “ganhar” a discussão, “lacrar”, todos perdem, afinal, não acrescentaram nada em seu repertório.

Agora vamos àquelas conversas do primeiro parágrafo, segundo Glaser, a inteligência conversacional, as conversas transformadoras. Onde você entra com um cenário, e sai com outras paisagens. Porque há um acordo implícito de escuta recíproca, que é diferente de ouvir. Você compreende a fundo de onde parte os argumentações de seu interlocutor, de quais experiências resultam em seu ponto de vista. Também há reconhecimento, de um e outro, sobre seus próprios equívocos, sua “culpa”, seus exageros.

Nesse jogo, a meta não é ganhar, mas saborear a dinâmica da interação, as descobertas, as origens de cada posicionamento. Um espaço para perguntas sem respostas definitivas, para perceber a perspectiva do outro. O foco é no problema, na busca por soluções e não em quem está certo.

Na obra de Judith E.Glaser, existe toda uma abordagem antropológica e também da neurociência para compreender essas tantas dimensões do ato de conversar.

Convidamos você a se auto-observar, especialmente nas conversas difíceis, para promover uma transformação. Se alguém dá o primeiro passo para essa abertura, poderemos ter muita esperança em uma sociedade mais madura e comprometida com novas perspectivas de futuro. Mais complexas e muito mais ricas.