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por Fabricio Vieira, facilitador de aprendizagem e fundador da Casa Movere 

Basta uma conversa com amigos próximos (só os íntimos admitirão), para perceber que a procrastinação é praticamente uma pandemia. Deixamos tudo para a última hora, quando já não há mais como adiar, e enfrentamos sérias consequências se não cumprirmos nossos compromissos. Seja um TCC, uma tese de doutorado, uma consulta médica, uma decisão importante, um projeto, ou até mesmo escrever um artigo, não importa o quanto de tempo tivemos para planejar, organizar e realizar as tarefas; elas sempre acabam sendo adiadas para a “última hora”.

E então, o que fazer? Recorremos aos amigos e, é claro, ao Google. Milhares de gurus, organizadores, e aplicativos milagrosos estão prontos para nos apresentar métodos, planilhas, meditações e até rezas, prometendo transformar-nos em pessoas super organizadas em pouco tempo. E assim, começamos a encher nossa vida com post-its em murais, agendas lotadas, canetas coloridas e cronogramas reversos.

Mas afinal, por que procrastinamos?

Também fui pesquisar o tema para além das dicas milagrosas, com um olhar de psicólogo e de quem trabalha com desenvolvimento humano há muitos anos. Entre muitos artigos de qualidade, encontrei algumas respostas muito mais consistentes do que os métodos sugeridos por aí. Resumindo para este artigo, podemos afirmar que a procrastinação tem pelo menos duas grandes causas: uma de natureza psicológica, muitas vezes inconsciente, e a outra, a constante luta pela nossa atenção no mundo das telas.

No primeiro caso, existem motivos que frequentemente não percebemos para o adiamento dos nossos compromissos. Podemos não ver sentido no trabalho em questão, discordar dele, ou sentir que não temos informações suficientes para realizá-lo. Quando não damos ouvidos a essas demandas internas, a procrastinação torna-se uma forma de rebelião passiva. Podemos acreditar que o problema é conosco, mas, na realidade, é nosso inconsciente tentando chamar a atenção para algo que não está certo por quem está demandando o resultado, uma posição.

A vaidade também pode estar escondida por trás dos nossos atrasos. Fazer com que os outros esperem por nós, dependam da nossa entrega, é uma maneira de afirmar que somos importantes e ocupados, mantendo certo controle sobre o processo. Já se pegou nessa situação?

Há mais um aspecto a considerar. Ao idealizarmos um projeto, um evento ou uma escrita, podemos nos perder em nosso mundo imaginativo, na visão de uma realização tão gloriosa, genial e perfeita, que já nos sentimos satisfeitos. Afinal, lidar com a realidade é muito mais complexo, trabalhoso e desconfortável. Realizar, decidir e entregar é a “hora da verdade”, quando nos expomos ao que somos capazes de fazer e ao que realmente pensamos.

De acordo com o psicanalista Christian Dunker, “a procrastinação, no fundo, é uma crítica ao que está sendo demandado, inclusive à pressão por rapidez na resolução das questões”. Em um mundo que exige cada vez mais velocidade, com a pressão para manter o emprego e demonstrar competência, procrastinar pode ser uma defesa contra essa constante aceleração.

Essas são algumas das causas emocionais relacionadas à procrastinação.

A segunda causa, que resumi para este artigo, é o mundo de distrações em que vivemos, principalmente devido ao excesso de telas. Você começa a trabalhar ou pesquisar um tema, e então surge um pop-up com os lugares mais lindos para viajar, ou um link sobre uma receita para o domingo, dicas de emagrecimento, ou alguma fofoca, e lá se vai o seu foco para as galáxias. É uma luta manter-se concentrado no mundo de hoje.

No meio de tantas dicas relacionadas a métodos, caderninhos e aplicativos (que podem, de fato, ser úteis), desconectar-se de todas as distrações pode ser uma fonte valiosa para conseguir se organizar, respeitar seus prazos e sentir-se produtivo. Silenciar as notificações das redes sociais no celular, fechar o WhatsApp enquanto escreve, são ações muito efetivas. Não é por acaso que muitos escritores se retiram para lugares sem internet, longe da vida social, para desenvolver suas obras. O tédio, a tela em branco ou a página em branco são ferramentas poderosas para trazer foco e ajudar a enfrentar a “hora da verdade”.

E você, também procrastina? Reconhece-se em alguma das causas mencionadas acima? Compartilhe conosco suas experiências!